segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Review/Resenha: Dante XXI - Sepultura


É difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do Sepultura. Formada em 1984 por quatro molequinhos, a banda foi a grande responsável por mostrar o metal brasileiro ao resto do mundo. Desde que foi fundado, o Sepultura mostrou diferentes sonoridades em seus álbuns ao longo dos anos; começou tocando death metal, passou depois para o thrash e, mais recentemente, vem incorporando elementos dos mais variados em suas músicas, como hardcore, ritmos brasileiros e música clássica. Isto fez com que angariasse muitos fãs, mas perdesse outros (o que acho uma tremenda injustiça, pois uma banda não deve ficar presa a uma fórmula, arriscando-se a virar uma paródia de si mesma).

O fato é que, após a saída do membro fundador Max Cavalera (guitarra e vocal) em 1997, muitos questionaram se a banda continuaria. A banda, algum tempo depois, anunciou o americano Derrick Green para substituí-lo como frontman da banda. Muitos fãs desconfiaram dele ao ouvirem o 1º disco com ele nos vocais, Against, afinal, sua voz não é igual à de Max, com a qual todos já estavam acostumados. O Sepultura, nesse disco, continuou a trilhar o caminho do experimentalismo iniciado com Chaos A.D. e Roots. Fato é que, após lançar em 2001 o álbum Nation, a banda foi demitida da gravadora Roadrunner, que, ao que parece, não acreditava na banda sem Max. A banda não se deu por vencida e continuou a lançar discos.

(Aqui, vou falar algo que talvez incomode muitos, mas eu tô cagando e andando: embora ache que, musicalmente, a banda tenha perdido um pouco com a ausência de Max, digo com toda a certeza que as letras melhoraram muito, principalmente quando escritas pelo novo vocalista (talvez por ser americano e falar inglês desde que se entende por gente, ao contrário do seu antecessor, que começou fazendo aquilo que o pessoal chama de "letras em inglês de 5ª série).)

E então chegamos a 2006. O conjunto lança o disco que é o melhor com o negão nos vocais: Dante XXI. Digo que é melhor até do que o Roots (e olha que eu tenho um carinho especial por este, por foi por ele que eu descobri o Sepultura como banda...). A banda estava entrosadíssima e mostrou que não é preciso de Max Cavalera para se fazer um discão do Sepultura. O experimentalismo continuou presente, mas, em vez de grooves e percussões, Dante XXI mostra arranjos com cordas e metais (pra quem não entendeu: violinos, cellos, trompas, trombones, etc.). Além disso, o Sepultura fez aqui o que ainda não tinha feito: um disco conceitual. O tema escolhido foi o poema Divina Comédia, de Dante Alighieri. Pra quem não sabe, a obra mostra um homem (ou melhor, o próprio autor) andando pelo Inferno, pelo Purgatório e chegando ao Paraíso. Cada uma destas paisagens é uma parte do poema e é descrito em detalhes (nota: pra quem é fã de Cavaleiros do Zodíaco, como eu, é legal observar o inferno na saga de Hades, pois a descrição dele foi inspirada no Inferno de Dante). Mas o disco não é exatamente um "livro musicado"; ele mostra a Comédia num contexto mais atualizado, que envolve até bombas atômicas. Por isso, "Dante XXI".

O disco tem arranjos incríveis e o quarteto mostra-se afiado. A guitarra de Andreas Kisser é executada com maestria, na medida certa; não que haja aqueles solos de antigamente, mas seu timbre e seus acordes estão bem mais evoluídos. A voz de Derrick impressiona (se bem que eu sempre gostei da voz dele), ele canta como nunca nesse álbum. Falar da bateria de Iggor Cavalera (isso mesmo! Agora ele escreve seu nome com dois "gês") é chover no molhado, mas eu falo. Ou melhor, exclamo: PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!! ISSO É QUE É UM BATERISTA DO CACETE!!!!! E o baixo... Bem, Paulo Jr. nunca foi um exímio baixista, mas toca pra banda e não faz feio.

O álbum, assim como a obra que o inspirou, é dividido em 3 partes: Inferno, Purgatório e Paraíso (dãããã...). São 15 faixas, das quais 4 são "intros". Uma delas inicia a bolacha, "Lost", para abrir alas para "Dark Wood of Error", esta comprovando que Iggor é foda! A seguir temos o primeiro single, "Convicted to Life", que ganhou um clipe muito bom.

Não vou me alongar muito detalhando cada música, mas vou enumerar alguns destaques do álbum (mas eu garanto o álbum todo):
  1. as já citadas "Dark Wood of Error" e "Convicted to Life";
  2. "False", que começa bem acelerada para, depois, se cadenciar e mostrar a banda sendo acompanhada por instrumentos de sopro;
  3. "Ostia", pomposa na medida (ganhou clipe, viu?! procura no youtube...);
  4. "Buried Words", um thrash metal de primeira;
  5. a intro "Eunoé", com cordas no talo, seguida da aceleradíssima "Crown and Mitter";
  6. o encerramento do disco, com "Still Flame" e seus arranjos eruditos.
Enfim, um grande disco que vale, pelo menos, uma conferida. O disco é tão bom que já vi gente que não gostava dos discos com Derrick dizer que é legal. Já os que não gostam do Derrick... bem, continuam na mesma.

Infelizmente, Dante XXI marca também como o último disco com as baquetas de Iggor. Esse vai deixar saudades. Para o seu lugar, foi chamado Jean Dolabella (não, nada a ver com o playboyzinho de merda do Dado...), que também bate muito, mas não como Iggor (se bem que ser como Iggor é impossível).

Vale salientar que a edição brasileira vem com duas faixas-bônus: uma versão ao vivo de "Mindwar" (do disco de estúdio anterior, Roorback) e uma versão demo de "False".

Banda:
Derrick Green - vocais
Andreas Kisser - guitarras
Paulo Jr. - baixo
Iggor Cavalera - bateria

Músicas:

Inferno
Lost (intro)
Dark Wood of Error
Convicted of Life
City of Dis
False

Purgatório

Fighting On
Limbo (intro)
Ostia
Buried Words
Nuclear Seven
Repeating the Horror

Paraíso
Eunoé (intro)
Crown and Mitter
Primium Mobile (intro)
Still Flame

Faixas Bônus
Mindwar (ao vivo)
False (demo)


Cristiano

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Review/Resenha: Reign in Blood - Slayer


Pra começo de conversa: fã que é fã não diz simplesmente "Slayer"... Grita "SLAAAAAYEEEER!!!!!!!!!!!!". Uma das bandas mais polêmicas do mundo, o Slayer mostra nesse disco toda a sua ira e o que faz dela um dos conjuntos mais reverenciados do thrash metal (além de uma das maiores desculpas para gente doida fazer merda, alegando que foi influenciado por uma banda tal ou um programa tal...).

Não e à toa que o Slayer é "SLAAAAAYEEEER!!!!!!!!!!!!". Lançado em 1986, o disco, que é o 3º LP de estúdio da banda, mostra 28 minutos de puro cacete (sem contar com as faixas-bônus da versão em CD), com músicas mais rápidas do que trombadinha em serviço. É um contraponto ao disco anterior, o "Hell Awaits", e suas canções mais elaboradas e longas. É quase hardcore, de tão rápido, mas não podemos classificá-lo como tal, pois o peso é absurdamente levado às últimas conseqüencias, e suas letras não podem ser consideradas somente como "punks".

Muita gente já ouviu falar do Slayer por suas letras que tratam de temas espinhosos para a sociedade. Blasfêmias, assassinos, nazistas, guerras (em detalhes...), etc., etc., etc... Tem de tudo aqui nessa bolacha. Um exemplo: Angel of Death, a faixa 1, trata do filha da puta do Josef Mengele, aquele médico nazista que fazias experiências em prisioneiros de Auschwitz, campo de concentração mais conhecido da época da 2ª Guerra, e que fugiu da Alemanha para viver livre no Brasil, e morrer já velhinho.

Outra faixa que merece destaque é a 2ª, Piece by Piece, considerada uma das mais "nojentas" letras da música mundial segundo uma dessas listas bestas que saem todo dia. Bem, não posso dizer que essa lista está errada em dizer que é nojenta, pois membros apodrecendo e carne rasgada não são coisas das mais agradáveis de se imaginar...

Claro que o destaque máximo é Raining Blood (aliás, belo trocadilho com o nome do disco, hein?!). Sua introdução (uma tempestade com uma bateria ao fundo (tum-tum-tum)), pra depois vir o riff mais do cacete que existe e a banda entrar com tudo no seu ouvido. É UM CLASSICO!!!!! Banda foda, disco foda!!

Reign in Blood é o maior clássico do Slayer (e o melhor, na minha modestíssima opinião...). Uma maravilha que você tem que ouvir, mesmo que não goste; afinal, trata-se de um disco único.


Os "culpados":
Tom Araya : baixo e vocal
Jeff Hanneman : guitarras
Kerry King : guitarras
Dave Lombardo : bateria

As faixas:

1. Angel of Death
2. Piece by Piece
3. Necrophobic
4. Altar of Sacrifice
5. Jesus Saves
6. Criminally Insane
7. Reborn
8. Epidemic
9. Postmortem
10. Raining Blood

Faixas-bônus do CD:
11. Aggressive Perfector
12. Criminally Insane (Remix)

Cristiano

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


Review/Resenha: Witchcraft Destroys Minds And Reaps Souls - Coven


Inicio minha colaboração neste blog falando de uma banda que, do ponto de vista sonoro, em nada se assemelha ao heavy metal ou ao hard rock. Trata-se do Coven, natural de Chicago e formado ainda no final dos anos 60, ou seja, antes que o Black Sabbath desferisse o golpe responsável pela criação e proliferação do metal e suas subdivisões. Naturalmente, Witchcraft Destroys Minds And Reaps Souls também está longe de ser um disco que corresponda a quaisquer vertentes mais extremas do rock and roll, mas não se relaciona em termos diretos com as tendências daquela época nos Estados Unidos.

Em 1969, grupos como Jefferson Airplane e Love consolidavam sua influência no cenário musical e propagavam as idéias lisérgicas de “paz e amor”. Quem se propunha uma abordagem distinta dos anseios da juventude acabou por sucumbir ao ostracismo ou seguiu uma carreira afastada da mídia, a exemplo do Velvet Underground, cuja importância só foi reconhecida décadas após sua dissolução, e do próprio Coven, que debutou no ano do Woodstock com este álbum que vos apresento.

Witchcraft Destroys Minds And Reaps Souls destoa das produções fonográficas sessentistas não pela sonoridade, um rock tradicional com pitadas psicodélicas e pop. Não há também virtuosismos. A vocalista Jinx Dawson, apesar de interpretar com bastante propriedade e lembrar Grace Slick, não chega ao nível de uma Janis Joplin ou Sandy Denny. O mesmo se avalia quanto à parte instrumental, desprovida de maiores recursos técnicos. Mas basta um olhar pouco atento à arte da capa para perceber que estamos diante de um disco atípico e, até certo ponto, revolucionário. As estranhezas aumentam quando descobrimos que o baixista chama-se Oz Osbourne e a primeira faixa do álbum intitula-se... Black Sabbath.

Composto por jovens profundamente interessados em satanismo e ocultismo, Aleister Crowley e Anton La Vey, o Coven apresenta canções caracterizadas pelo macabro e atinge patamares até então jamais alcançados no que concerne à exploração de temáticas vinculadas à magia negra. As letras de Jim Donlinger (ao lado de Dawson, encarregado dos trabalhos vocais) abordam histórias, práticas e rituais funestos de modo tão explícito como nunca se vira a partir dos mistérios da encruzilhada de Mr. Robert Johnson, passando pelas polêmicas mais recentes dos Rolling Stones.

A faixa de abertura já revela um quê de sinistro e até poderia funcionar como uma espécie de cartão de visitas em virtude do título no mínimo notório. No entanto, o ápice aterrador das invocações satânicas começa com Coven in Charing Cross, que narra um ritual de adeptos da bruxaria em que se oferece o sangue de uma criança a fim de chamar os demônios:

“Thirteen cultists held a secret meeting, bringing powers of the darkness upon those who opposed them. The cheif of the circle, known as Malchius drank the blood of a young baby offered unto him. They danced ecstatically, The orgied frantically. The demon had arisen from the circle on the floor. The chanting was much louder and more piercing than before.”

Caso não se saiba, Coven é o nome atribuído a um grupo de bruxos que pode ter no mínimo dois componentes e no máximo treze.

Mais adiante, Pact With Lucifer conta as desventuras de um fazendeiro que faz um pacto com o diabo para prosperar, porém depois de sete anos está fadado a acertar as contas com o próprio:

“The farmer prospered, did do well. Good fortune was his story to tell. Still he pursued the path he feared. The time was short, the dark day neared. The seven years had passed away, Now it was the judgement day. In memory of the words he said, Lucifer appear in a flash of red. "It's the day I said I'd come for you, And now it's time to pay your due. I'm here to claim the soul I've won To seal the bargain and take your son!”

O disco fecha com Satanic Mass, que, não sendo necessariamente uma música, mais parece um conjunto de preces e oferendas a Satã de duração superior aos 13 minutos. Não há como descrever o impacto de ouvir esta faixa estando ciente de que sua gravação ocorreu ainda na década de 60, e fica óbvio, a essa altura, que aqui reside a relevância, influência ou mesmo correlação entre o Coven e o heavy metal em si e suas vertentes.

E para quem deseja conhecer de fato os primórdios do metal, fica o aviso de que se limitem a procurar apenas este trabalho do Coven, pois os dois seguintes já são uma outra história...

Tracklist:

1. Black Sabbath









10. Satanic Mass

Banda:

Jim Donlinger - Vocals Jinx Dawson - Vocals Mike "Oz" Osbourne - Bass guitar Steve Ross - Drums Alan Estes - Bass John Hobbs - Keyboards Christopher Nielsen - Guitar, vocals Frank Smith - Keyboards Jim Nyeholt - Keyboards