É difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do Sepultura. Formada em 1984 por quatro molequinhos, a banda foi a grande responsável por mostrar o metal brasileiro ao resto do mundo. Desde que foi fundado, o Sepultura mostrou diferentes sonoridades em seus álbuns ao longo dos anos; começou tocando death metal, passou depois para o thrash e, mais recentemente, vem incorporando elementos dos mais variados em suas músicas, como hardcore, ritmos brasileiros e música clássica. Isto fez com que angariasse muitos fãs, mas perdesse outros (o que acho uma tremenda injustiça, pois uma banda não deve ficar presa a uma fórmula, arriscando-se a virar uma paródia de si mesma).
O fato é que, após a saída do membro fundador Max Cavalera (guitarra e vocal) em 1997, muitos questionaram se a banda continuaria. A banda, algum tempo depois, anunciou o americano Derrick Green para substituí-lo como frontman da banda. Muitos fãs desconfiaram dele ao ouvirem o 1º disco com ele nos vocais, Against, afinal, sua voz não é igual à de Max, com a qual todos já estavam acostumados. O Sepultura, nesse disco, continuou a trilhar o caminho do experimentalismo iniciado com Chaos A.D. e Roots. Fato é que, após lançar em 2001 o álbum Nation, a banda foi demitida da gravadora Roadrunner, que, ao que parece, não acreditava na banda sem Max. A banda não se deu por vencida e continuou a lançar discos.
(Aqui, vou falar algo que talvez incomode muitos, mas eu tô cagando e andando: embora ache que, musicalmente, a banda tenha perdido um pouco com a ausência de Max, digo com toda a certeza que as letras melhoraram muito, principalmente quando escritas pelo novo vocalista (talvez por ser americano e falar inglês desde que se entende por gente, ao contrário do seu antecessor, que começou fazendo aquilo que o pessoal chama de "letras em inglês de 5ª série).)
E então chegamos a 2006. O conjunto lança o disco que é o melhor com o negão nos vocais: Dante XXI. Digo que é melhor até do que o Roots (e olha que eu tenho um carinho especial por este, por foi por ele que eu descobri o Sepultura como banda...). A banda estava entrosadíssima e mostrou que não é preciso de Max Cavalera para se fazer um discão do Sepultura. O experimentalismo continuou presente, mas, em vez de grooves e percussões, Dante XXI mostra arranjos com cordas e metais (pra quem não entendeu: violinos, cellos, trompas, trombones, etc.). Além disso, o Sepultura fez aqui o que ainda não tinha feito: um disco conceitual. O tema escolhido foi o poema Divina Comédia, de Dante Alighieri. Pra quem não sabe, a obra mostra um homem (ou melhor, o próprio autor) andando pelo Inferno, pelo Purgatório e chegando ao Paraíso. Cada uma destas paisagens é uma parte do poema e é descrito em detalhes (nota: pra quem é fã de Cavaleiros do Zodíaco, como eu, é legal observar o inferno na saga de Hades, pois a descrição dele foi inspirada no Inferno de Dante). Mas o disco não é exatamente um "livro musicado"; ele mostra a Comédia num contexto mais atualizado, que envolve até bombas atômicas. Por isso, "Dante XXI".
O disco tem arranjos incríveis e o quarteto mostra-se afiado. A guitarra de Andreas Kisser é executada com maestria, na medida certa; não que haja aqueles solos de antigamente, mas seu timbre e seus acordes estão bem mais evoluídos. A voz de Derrick impressiona (se bem que eu sempre gostei da voz dele), ele canta como nunca nesse álbum. Falar da bateria de Iggor Cavalera (isso mesmo! Agora ele escreve seu nome com dois "gês") é chover no molhado, mas eu falo. Ou melhor, exclamo: PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!! ISSO É QUE É UM BATERISTA DO CACETE!!!!! E o baixo... Bem, Paulo Jr. nunca foi um exímio baixista, mas toca pra banda e não faz feio.
O álbum, assim como a obra que o inspirou, é dividido em 3 partes: Inferno, Purgatório e Paraíso (dãããã...). São 15 faixas, das quais 4 são "intros". Uma delas inicia a bolacha, "Lost", para abrir alas para "Dark Wood of Error", esta comprovando que Iggor é foda! A seguir temos o primeiro single, "Convicted to Life", que ganhou um clipe muito bom.
Não vou me alongar muito detalhando cada música, mas vou enumerar alguns destaques do álbum (mas eu garanto o álbum todo):
- as já citadas "Dark Wood of Error" e "Convicted to Life";
- "False", que começa bem acelerada para, depois, se cadenciar e mostrar a banda sendo acompanhada por instrumentos de sopro;
- "Ostia", pomposa na medida (ganhou clipe, viu?! procura no youtube...);
- "Buried Words", um thrash metal de primeira;
- a intro "Eunoé", com cordas no talo, seguida da aceleradíssima "Crown and Mitter";
- o encerramento do disco, com "Still Flame" e seus arranjos eruditos.
Infelizmente, Dante XXI marca também como o último disco com as baquetas de Iggor. Esse vai deixar saudades. Para o seu lugar, foi chamado Jean Dolabella (não, nada a ver com o playboyzinho de merda do Dado...), que também bate muito, mas não como Iggor (se bem que ser como Iggor é impossível).
Vale salientar que a edição brasileira vem com duas faixas-bônus: uma versão ao vivo de "Mindwar" (do disco de estúdio anterior, Roorback) e uma versão demo de "False".
Banda:
Derrick Green - vocais
Andreas Kisser - guitarras
Paulo Jr. - baixo
Iggor Cavalera - bateria
Músicas:
Inferno
Lost (intro)
Dark Wood of Error
Convicted of Life
City of Dis
False
Purgatório
Fighting On
Limbo (intro)
Ostia
Buried Words
Nuclear Seven
Repeating the Horror
Paraíso
Eunoé (intro)
Crown and Mitter
Primium Mobile (intro)
Still Flame
Faixas Bônus
Mindwar (ao vivo)
False (demo)
Cristiano
2 comentários:
Em primeiro, parabéns pelo comentário, bem elaborado, não deixando passar despercebido a qualidade musical e de produção desse disco.
Falar da parte ruim seria inviável, até porque nesse disco, meus amigos, talvez não exista. Nesta formação, o Sepultura finalmente conseguiu encontrar o que não fazia desde a saída de Max, e agradar antigos e novos fãs neste Dante XXI.
Vale a pena conferir.
Nota: 9
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